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Diabéticos enfrentam a grande crise econômica

Com pouco dinheiro em caixa, governos da Europa cortam drasticamente gastos com a saúde. Diabéticos vão ter que suar a camisa se quiserem se manter saudáveis.

O NHS, sistema de saúde público inglês, passa por uma drástica operação de corte de gastos.

A crise econômica européia começa a atingir os diabéticos do continente. Após países menores, como a Hungria, anunciarem cortes seletivos nos tratamentos da doença, agora a poderosa Inglaterra, dona de um dos sistemas de saúde mais inclusivos do mundo, também irá enxugar os gastos com a saúde. As primeiras pessoas a sentirem os efeitos azedos da parcimônia serão os obesos com diabetes tipo 2. A população acima do peso se revoltou com os novos planos do governo.

Na Inglaterra, obesos diabéticos do tipo 2 estavam acostumados a receber uma série de regalias às custas do erário público. Eles tinham direito a descontos na compra de medicamentos, a redução de impostos sobre a moradia e a mensalidades menores em academias e clubes. Quem pagava por isto era o NHS, o serviço público de saúde. Devido à crise econômica que assola a Europa e à enorme dívida do governo bretão, a partir de abril deste ano boa parte dos serviços que antes eram oferecidos pelo NHS serão cortados. Quem deverá arcar com os custos da saúde da população serão as administrações locais – as quais possuem muito menos dinheiro em caixa do que o NHS. Assim, a única solução para manter um pouco da qualidade no atendimento público será realizar cortes gigantescos de gastos.

O diabetes e suas complicações custam aos cofres ingleses mais de 13 bilhões de reais por ano. Por isso, a doença é uma das primeiras para a qual reduções de financiamento foram anunciadas.

Um em cada quatro ingleses é obeso, um índice alarmante.

 

Controlando a glicemia e o paciente

A partir deste ano, os obesos ingleses com diabetes que quiserem receber benefícios do governo deverão provar que estão se cuidando adequadamente e seguindo as orientações médicas. Para isto, cartões eletrônicos de acesso a academias serão distribuídos a eles. Com estes cartões, o governo poderá saber quando e por quanto tempo um paciente ficou em determinado estabelecimento de saúde. Se o obeso não freqüentar a academia de acordo com as regras impostas pelo médico, suas benesses – a começar pelos impostos reduzidos – serão eliminadas.

Uma grande parte da população ficou enfurecida com o anúncio das novas medidas. As estimativas mais recentes indicam que 1 de cada 4 ingleses é obeso. Além disso, 58 porcento das mulheres e 65% dos homens ou é obeso ou está acima do peso – números que correspondem a mais de 32 milhões de pessoas. O contingente de dessatisfeitos é, portanto, enorme – e parece dividir a comunidade diabética.

 

A doce voz do povo

De uma lado, as vozes mais ferinas contra o governo são, obviamente, aquelas dos obesos diabéticos tipo 2. Pat Varnam, de Nottinghamshire, disse, irritado: “Por que eles [os políticos] não tentam cortar os próprios salários também? Eles não passam de idiotas que não servem para nada e que passam o dia em Westminster debatendo o que mais eles podem fazer para punir as pessoas que os elegeram.” “Estas pessoas não entendem que não pedimos para ser diabéticos”, lamentou Mark Mcfc Lee. Outras pessoas argumentaram que não era culpa delas que se encontram acima do peso. A londrina Irene Morley, por exemplo, afirmou: “Eu acho isto [as medidas do governo] horrível. Estou engordando por causa da insulina.”

Gordinhos diabéticos terão que suar a camisa para conseguir seus benefícios.

Por outro lado, boa parte dos diabéticos tipo 1 do país apoia a medida. Segundo as opiniões coletadas via internet, os tipo 1 acreditam que muitos obesos recebem benefícios da sociedade, que paga por seus tratamentos, porém não se esforçam o suficiente para manterem-se saudáveis. A opinião da inglesa Vicky Beecham-Gray representa bem este segmento da sociedade: “Eu tenho diabetes tipo 1 e concordo plenamente [com as medidas econômicas]. Se eu tivesse sido diagnosticada com diabetes tipo 2, isto teria sido um sinal de alerta suficiente para eu começar a me cuidar. (…) Se eu tivesse a oportunidade de eliminar esta doença, eu o faria.” Outro ponto interessante levantado por quem defende as medidas de austeridade é que os cortes de benefícios serão feitos de acordo com cada caso dos pacientes, baseados nas análises de seus médicos. Portanto, obesos que não conseguem praticar exercícios físicos por motivos de saúde, por exemplo, não seriam isentos dos benefícios. As únicas pessoas atingidas seriam aquelas que não se tratam adequadamente.

 

A Inglaterra não está sozinha

O debate na sociedade britânica ainda vai longe e deve esquentar muito mais quando os planos forem postos em prática em abril. Em 2012, o Diabeticool noticiou outras histórias de percalços na saúde dos diabéticos europeus. Na matéria “Falta insulina no primeiro mundo“, veja como a crise econômica atingiu até mesmo as farmácias espanholas. Já o texto comicamente intitulado “Na Hungria, diabético que não se trata não mama” apresenta as criativas medidas de austeridade promovidas pelo governo húngaro para os diabéticos. Naquele país, só recebe insulina de melhor qualidade quem provar, através de exames de sangue, que está controlando direitinho a glicemia. Este é, infelizmente, o preço de se depender do governo para arcar com os gastos de saúde: quando a economia vai mal, os cidadãos ficam invariavelmente à mercê das canetadas oficiais.

 

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