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Tudo causa diabetes, até a poluição do ar?

Nova pesquisa indica que poluição atmosférica pode aumentar os riscos de diabetes – mas será que dá para confiar nesta afirmação? O Diabeticool investiga.

Às vezes parece que tudo causa diabetes. Quem nunca ouviu uma história de que comer este ou aquele alimento aumenta os riscos de desenvolver diabetes tipo 2, ou então que realizar uma determinada ação é certeza de piorar a resistência à insulina, não é mesmo? A questão é que, muitas vezes, por trás destas reportagens estão sólidas pesquisas científicas, conduzidas com todo o rigor metodológico. Isso mostra que o diabetes é uma doença super complexa e que é afetada de diversas maneiras pelo corpo e pelo meio em que vivemos. Porém, é sempre bom lembrar que, justamente por ser complexa, às vezes é difícil até mesmo aos cientistas compreendê-la corretamente. A mais recente novidade nesta imensa lista de coisas estudadas pela Ciência que podem levar ao diabetes é, por incrível que pareça, a poluição do ar.

Uma pesquisa realizada na Europa, conduzida por pesquisadores do Centro Alemão de Pesquisas em Saúde Ambiental, concluiu que é possível relacionar as taxas de poluição atmosférica – especialmente aquela causada pelos meios de transporte – à incidência de diabetes tipo 2.

Para chegar a esta conclusão, os cientistas coletaram o sangue de cerca de 400 crianças, todas com 10 anos de idade. Depois, estudaram quais delas apresentavam resistência à insulina e compararam esta informação com dados sobre a poluição do ar na cidade em que elas moram. A idéia era comparar a exposição diária dos pequenos à poluição com o estado geral de sua saúde.

Brevemente, resistência à insulina é a incapacidade do corpo de utilizar a insulina de maneira efetiva. Com isto, o controle da quantidade de açúcar no sangue fica comprometido. Ter a condição não significa necessariamente que a pessoa esteja com diabetes, porém é um sério fator de risco.

 

Os resultados do trabalho mostram que é possível, sim, correlacionar a poluição do ar ao aumento na resistência à insulina. De acordo com os dados do grupo de pesquisa alemão, quanto mais perto de uma grande via uma criança morar, maiores os riscos de desenvolver a resistência – o aumento nos riscos é de 7% a cada 500 metros mais próximos de uma via pública. A pesquisa foi publicada na revista científica Diabetologia.

 

QUAL O MOTIVO DA POLUIÇÃO DO AR CAUSAR RESISTÊNCIA À INSULINA?

De acordo com os cientistas, uma possível explicação para a poluição do ar aumentar os riscos de diabetes é a seguinte: as partículas presentes na poluição são capazes de reagir quimicamente com as gorduras e proteínas presentes no corpo humano, causando danos às nossas células. Isto aumentaria os níveis de inflamação no organismo, e a inflamação é um precursor clássico de problemas de saúde como a resistência à insulina e o diabetes em si.

 

DÁ PARA CONFIAR NA PESQUISA?

Apesar de seguir padrões confiáveis de coleta e análise de dados, há muitos pontos que podem ser abertamente debatidos sobre as conclusões às quais chegaram os cientistas alemães. O próprio autor do estudo, Joachim Heinrich, em uma entrevista, chegou a afirmar que os resultados ainda não são completamente conclusivos. “[Saber se] o aumento nos riscos de resistência à insulina relacionado à poluição atmosférica em crianças possui qualquer importância clínica é uma questão em aberto. De qualquer maneira, os resultados deste estudo dão suporte à noção de que o desenvolvimento do diabetes em adultos pode ter sua origem cedo na vida, o que inclui a exposição a fatores no ambiente”, afirmou o cientista.

Comentando o estudo alemão, o professor Jon Ayres, um expert em doenças respiratórias da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, argumentou que a coleta de sangue das crianças não foi concomitante à medição da poluição atmosférica, o que pode comprometer as conclusões dos pesquisadores. “Um estudo maior e metodologicamente mais seguro precisa ser feito a fim de confirmar uma possível ligação entre a poluição do ar causada por emissões do tráfego [de veículos motorizados] e a resistência à insulina em crianças”, acrescentou o pesquisador.

 

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