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Associação dos Diabéticos do Piauí lança nota esclarecendo cirurgia

Do site Cidadeverde.com:

A Associação dos Diabéticos do Piauí publicou hoje (14) um artigo em sua página no Facebook para esclarecer sobre os possíveis benefícios da cirurgia bariátrica no tratamento de diabetes tipo 2.

O artigo, escrito pelo endocrinologista Rogério Santiago, e a vice-presidente da Adip, Alice Morais – acadêmica de medicina/UFPI, descreve que o método não garante a “cura” da doença e faz um alerta sobre que tipo de paciente pode ser submetido a tal procedimento.

A associação afirma que, após as declarações do secretário de Segurança piauiense, Robert Rios, de que teria sido curado da doença após uma cirurgia bariátrica, aumentou significativamente a procura por informações e dúvidas de associados. O artigo, então, visa a esclarecer os principais pontos que envolvem o assunto.

 

Veja a publicação na íntegra

“Depois da declaração do secretário de segurança Robert Rios, sobre a cura do diabetes tipo 2 após ter se submetido a uma cirurgia bariátrica, inúmeros diabéticos procuraram a ADIP e os endocrinologistas do estado para obterem mais informações sobre este procedimento.

Um dos médicos responsáveis pela entidade, o endocrinologista Rogério Santiago, e a vice-presidente da Adip, Alice Morais – acadêmica de medicina/UFPI – elaboraram um esclarecedor artigo onde será possível tirar as principais dúvidas sobre tratamento. Leiam!”

Cirurgia bariátrica é o nome dado a um grupo de procedimentos cirúrgicos concebidos para o tratamento da obesidade. A primeira experiência aconteceu ainda na década de 1950, mas somente com a evolução das técnicas nos anos subsequentes, houve redução da mortalidade e da morbidade associada e a cirurgia ganhou espaço. Mais que isso, foram descobertos efeitos metabólicos resultantes que beneficiam os portadores de doenças secundárias à obesidade para além da perda do peso.

Inicialmente, as indicações à cirurgia eram restritas aos pacientes com índice de massa corpórea superior a 40 kg/m2, isto é, obesos mórbidos… À medida que a segurança do procedimento e os conhecimentos sobre as técnicas foram evoluindo, a cirurgia foi sendo aceita para pessoas com índices menores.

Percebeu-se que a cirurgia, algumas técnicas em especial, era capaz de causar remissão do diabetes do tipo 2 em pacientes obesos portadores da doença. Atribui-se esse efeito, além de à diminuição da ingesta calórica, à melhora na ação das células beta produtoras de insulina, à redução da resistência à insulina e à alteração no padrão de secreção de hormônios gastrintestinais como o GLP-1. Ou seja, a cirurgia bariátrica teria não apenas uma ação mecânica ao reduzir o volume gástrico, mas também uma resposta endócrina que beneficia o obeso diabético do tipo 2.

A remissão completa do diabetes após cirurgia bariátrica só seria obtida se o paciente permanecer com glicemia < 100 mg/dl, HbA1c < 6,0% por pelo menos 1 anos sem medicação e sem outra terapia complementar. A cura seria considerada se estas metas forem mantidas durante pelo menos 5 anos. Vidal et al estudando 153 pacientes diabéticos operados no Hospital das Clínicas de Barcelona (Espanha) documentou uma remissão completa em 29% dos operados seguidos por um período médio de 2 anos. Remissão parcial ocorre na maioria, e 9% apresentam recorrência já antes de 2 anos de cirurgia.

Observa-se assim que o diabetes do tipo 2 pode voltar anos após a cirurgia, daí o uso do termo “cura” ainda não ser consensualmente aceito na área médica. Isso acontece para cerca de 30% daqueles que haviam inicialmente alcançado remissão completa. Estudos sobre a redução de complicações associadas ao diabetes como nefropatia, neuropatia e retinopatia ainda são incipientes e inconclusivos.

Mas que fatores seriam capazes de indicar maior chance de resposta? Os resultados na literatura médica apontam para o menor tempo de doença prévia (menos de 10 anos) e a ausência de necessidade de insulina antes da cirurgia como fatores que predizem melhor resposta. Ou seja, os pacientes devem manter ainda uma razoável secreção de insulina.

É importante lembrar que a cirurgia não exime o paciente da manutenção de um estilo de vida saudável (como já previamente requerido pelo diabetes) e implica em acompanhamento médico em longo prazo para monitorar possíveis complicações e, no caso do diabético do tipo 2, avaliar possível retorno da atividade da doença.

A cirurgia bariátrica já demonstrou indubitável benefício ao diabético obeso. Algumas técnicas parecem ter benefícios maiores com menos complicações, dentre elas destaca-se a cirurgia por “by-pass gástrico” e a “cirurgia de Sleeve”.

Há muitos questionamentos acerca da cirurgia em diabéticos tipo 2, especialmente quanto à durabilidade de seus benefícios, à real extensão de seus riscos e aos limites na indicação do procedimento. Indubitavelmente, pacientes com IMC > 40 kg/m2 se beneficiam com a cirurgia. Aqueles com IMC > 35 também parecem se beneficiar. E aqueles com IMC entre 30-35 são os de maiores dúvidas sobre a evolução pós- cirúrgica. Em diabéticos tipo 2 com IMC < 30 não há evidencias de um beneficio associado a segurança.

Pensando em termos práticos, vamos dar o exemplo da Espanha, onde o número de diabéticos do Tipo 2 entre 18 e 65 anos é de 2.862.330 indivíduos. Destes, 1.436.890 estão obesos. Se a cirurgia fosse o caminho absoluto para a cura… Teríamos que operar cerca de um milhão e meio de pessoas somente na Espanha com diabetes tipo 2 se decidíssemos operar todos os diabéticos obesos!

No mais, seriam os diabéticos do tipo 2 NÃO obesos também beneficiados? Não temos tal resposta. As últimas recomendações da ADA são de que a cirurgia bariátrica deve ser considerada para adultos com IMC > 35 kg/m2 e diabetes do tipo 2, especialmente se a doença tiver comorbidades associadas ou for de difícil controle com medicamentos, dieta e atividade física. Mas a entidade ressalva que “não há evidências significativas para generalizar a indicação de cirurgia bariátrica para diabéticos do tipo 2 com IMC menor que 35”.

Dessa forma, fica claro que o tratamento do diabetes do tipo 2, envolva hábitos de vida e medicamentos ou cirurgia, deve ser individualizado. A comunidade científica está longe de ser unânime quanto ao uso do termo “cura do diabetes”, sobretudo ao considerarmos que nem mesmo os mecanismos que desencadeiam e mantêm a diabetes do tipo 2 são plenamente conhecidos.

Embora abracemos com satisfação os bons resultados que a terapia foi capaz de prover a milhares de pessoas, é preciso reconhecer que esta, como toda nova e entusiasmante terapia em Medicina, requer tempo de observação e estudo antes de ser noticiada como a solução definitiva para uma doença tão cheia de nuances.

“Para mais informações, converse com seu médico. A decisão por um tratamento depende de variáveis clínicas e deverá ser tomada junto ao profissional de saúde que lhe assiste.”

As principais referências bibliográficas para a elaboração deste informativo foram:

1. ADA – American Diabetes Association. Standards of Medical Care in Diabetes, 2011.

2. Buchwald H, Avidor Y, Braunwald E, Jensen MD, Pories W, Fahrbach K, Schoelles K. Bariatric surgery: a systematic review and meta-analysis. JAMA 2004 Oct 13;292(14):1724-37.

3. Buchwald, H; Estok, R; Fahrbach, R; Banel, D; Jensen, M. Weight and Type 2 Diabetes after Bariatric Surgery: Systematic Review and Meta-analysis. The American Journal of Medicine – March 2009 (Vol. 122, Issue 3, Pages 248-256.e5.

4. Rubino, F & Gagner, M. Potential of Surgery for Curing Type 2 Diabetes Mellitus. Annals of Surgery, Vol. 236, No. 5, 554–559.

5. Vetter, ML; Ritter, S; WADDEN, T; Sarwer, DB. Comparison of Bariatric Surgical Procedures for Diabetes Remission: Efficacy and Mechanisms. Diabetes Spectr. 2012 November 1; 25(4): 200–210. The American Journal of Medicine – March 2009 (Vol. 122, Issue 3, Pages 248-256.e5.”

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