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Como as infecções alteram nossas glicemias?

Aprenda por que a glicemia dispara quando estamos doentes – e o que fazer para se tratar!

Muita gente tem dúvidas a respeito de infecções como gripes, otites, amigdalites e como tratá-las, principalmente quando temos diabetes. Esse texto vai responder algumas das dúvidas mais frequentes sobre o assunto.

[pullquote]”Muita gente fica assustada quando, por estar gripado, se depara com glicemias acima de 250mg/dl!”[/pullquote]

Para começar, precisamos saber, exatamente, o que é uma infecção. Quando um micorganismo – seja ele um vírus, uma bactéria, um fungo, um protozoário… – invade o nosso corpo, ele pode causar doenças relacionadas à sua multiplicação e às substâncias que ele produz. Essa invasão é a chamada infecção, e doença infecciosa é o nome que damos ao quadro clínico causado pela infecção. Assim, gripe e pneumonia são exemplos de infecções que o ser humano pode ter.

Muita gente fica assustada quando, por estar gripado, se depara com glicemias acima de 250mg/dl. Eis que, então, acha que o tratamento inteiro do diabetes está errado, desabafa dizendo que não aguenta mais não entender a doença… calma!

Uma das principais necessidades de quem tem diabetes é saber lidar com um sick day, ou seja, um dia em que, porventura, estejamos doentes e com flutuações da glicemia. Para que isso aconteça, você não precisa ser um profundo conhecedor de todos os processos fisiológicos do corpo, mas precisa conhecer bem o seu tratamento – coisa que pode e deve ser feita em conjunto com o seu médico.

Esse é um tipo de bactéria, chamado de “bacilo”, que pode causar infecções.

Bem, sem mais delongas, vamos ao ponto principal! O que acontece no nosso corpo durante uma infecção?

Quando um agente patológico – outro nome complicado para falar desses microrganismos que causam as infecções! – invade o nosso corpo, acaba por ativar as defesas do corpo, o chamado sistema imunológico. Ele é composto por dois tipos de respostas, uma chamada de resposta inata ou inespecífica e a outra chamada de resposta adaptativa ou específica.

[pullquote]É a resposta do sistema imune contra os microorganismos nocivos ao corpo que faz a glicemia disparar.[/pullquote]

A resposta inata é aquela que inclui, dentre outras coisas, a ação das células chamadas fagócitos, que são a primeira linha de defesa do corpo. Elas, por assim dizer, “comem” os microrganismos, a partir do mecanismo que chamamos de fagocitose. Dentre estes fagócitos, podemos destacar os neutrófilos, monócitos – ou macrófagos – e os eosinófilos. Nomes relativamente familiares para quem faz acompanhamento médico e tem a curiosidade de olhar os exames antes da consulta…

Depois que os microrganismos são fagocitados, eles também são digeridos dentro das células. Em seguida, várias substâncias são liberadas – que nós chamamos de citocinas – para sinalizar para todo o organismo que houve uma invasão.

Basicamente, os fagócitos são os seguranças do corpo, que pegam os invasores, trancam em uma sala fechada e apertam o botão de alerta de intrusos, que faz com que soe uma “sirene química” pelo corpo todo. E essa sirene é que causa a hiperglicemia.

Dentre as citocinas – que são muitas, mesmo! – podemos destacar a interleucina 1 – ou “IL-1” – e o fator de necrose tumoral – ou “TNF” – que são os principais causadores de vários efeitos no corpo.

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A IL-1 e o TNF são as substâncias que causam a febre, aumentam a atividade do sistema imunológico – principalmente por ativar aquela outra resposta imunológica, chamada resposta adaptativa, lembram? – e, em especial, ativam a medula das glândulas suprarrenais – também chamadas de adrenais – aumentando a produção de cortisol.

O cortisol, por sua vez, é um dos hormônios hiperglicemiantes do corpo (junto com o hormônio de crescimento [GH], adrenalina e glucagon) e é o principal responsável, durante o período de infecção, por desregular a glicemia, uma vez que também aumenta a resistência das células à ação da insulina. Conforme a infecção é eliminada do corpo por meio do sistema imunológico, diminui a produção de IL-1 e TNF, e os níveis de cortisol também baixam, por consequência, diminuindo a glicemia.

Evidentemente, essas hiperglicemias precisam ser tratadas, de acordo com a conduta passada pelo seu médico – e esta conduta é única, para cada pessoa. Para isso, se faz necessário monitorar a glicemia com muito mais cuidado do que já fazemos diariamente. Tomar bastante líquido ajuda duplamente: inicialmente, ajuda a evitar problemas decorrentes da hiperglicemia, como por exemplo, a desidratação por conta do grande volume de urina produzido, e também auxilia na regulação da temperatura do corpo.

E, claro, o mais importante é tratar a infecção, que é a causa de tudo isso! Portanto, recorrer a um serviço de saúde também é importante para descobrir o que teria causado essa infecção e tratá-la da maneira correta – por exemplo, com antibióticos no caso de uma infecção por bactérias.

E, o que deve ser reforçado: não deixe de tomar as medicações para o diabetes. 

Portanto, não fique em pânico quando perceber que sua glicemia está aumentando ao surgirem os primeiros sintomas de uma gripe. É o normal que aconteça, e, sabendo disso, podemos tratar todo o quadro da maneira certa.

 

No próximo texto desta coluna, explicaremos como utilizar, de maneira correta e segura, medicamentos que contêm açúcar na hora de combater infecções e doenças!

Forte abraço, e até a próxima!

ronaldo wieselberg perfil diabeticoolRonaldo José Pineda Wieselberg tem diabetes há mais de 20 anos. É estudante de Medicina na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa (FCMSCSP), auxiliar de coordenação do Treinamento de Jovens Líderes em Diabetes da ADJ Diabetes Brasil e Jovem Líder em Diabetes pela Federação Internacional de Diabetes (IDF), com trabalhos sobre diabetes premiados e apresentados no Brasil e no exterior. Apesar de ter o mesmo nome de vários grandes jogadores de futebol, prefere o xadrez.
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8 Comentários

  1. Parabéns pela explicação!! Muito simples e, ao mesmo tempo, muito rica em detalhes pertinentes!!!
    Excelente!!!

  2. Ótimo artigo, não sou diabética mas tenho síndrome idiopática pós-prandial, meus níveis glicêmicos basais e hemoglobina glicada são sempre normais e tomei um baita susto quando me deparei com a glicemia de jejum a 137mg/dl durante uma faringite (no dia anterior ainda tomei uma injeção de corticóide). Estou de olho para que volte ao normal. Obrigada pelo artigo elucidativo.

  3. Excelente seu texto, parabéns! Estava justamente pensando o que estaria acontecendo com a minha glicemia…pois estou gripado… Elucidou muito. Obrigado.

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