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Diabetes mal controlado e cegueira

A visão é um dos nossos cinco sentidos. É por meio dela que traduzimos símbolos, imagens e vemos as cores da vida. Nossos olhos registram grande parte de toda nossa memória, além de ajudar a nos guiar no dia a dia, facilitando a locomoção, a comunicação e até proporcionando certa independência. Poucas pessoas sabem do risco que os olhos correm devido, até, a doenças não diretamente relacionadas à visão. O diabetes, por exemplo, é hoje a maior causa de cegueira na idade adulta, muito mais do que o glaucoma e a catarata.

É por conta do diabetes mal controlado que milhares de pessoas perdem a visão ao longo da vida. Estima-se que dos atuais 12 milhões de diabéticos brasileiros, 10% terão problemas de visão e pelo menos 2% ficarão cegos após 15 anos com diabetes. Muito ao contrário do que se imagina, não são apenas pacientes com a idade mais avançada que podem ter alguma complicação na visão causada pela doença. Adolescentes e adultos jovens também podem desenvolver problemas.

O diabetes é uma doença multissistêmica, que atinge diversas partes do corpo, como os sistemas neurológico, cardiovascular e renal. Por isso, o controle rigoroso da doença ao longo da vida é fundamental para evitar complicações. A visão pode ser afetada pelo aparecimento da retinopatia diabética (RD). Ela ocorre, entre outros fatores, pelo excesso de glicose no sangue, que o torna mais espesso, aumentando o fluido dentro dos vasos dos olhos e sua permeabilidade, o que pode ocasionar hemorragias, infartos e inchaços na retina. A RD é a principal causa de cegueira em indivíduos em idade produtiva em todo o mundo.

Quando o vazamento de fluido chega à macula, parte central e mais importante da retina e local responsável por receber e traduzir a imagem para o cérebro, o paciente desenvolve o edema macular diabético (EMD). O EMD é a principal causa de baixa visual em pacientes com a retinopatia diabética.

No início, o EMD pode até ser assintomático e o paciente não sentir dificuldades visuais significativas. As complicações, porém, tornam-se mais sérias com o passar do tempo. A visão torna-se progressivamente embaçada originando dificuldades progressivas com a leitura (tanto longe como perto), incapacidade de dirigir entre outras limitações, o que afeta tanto a vida profissional como social dos pacientes. Se não diagnosticado a tempo e tratado adequadamente, o edema pode se consolidar, aprofundar as lesões na região central da retina e assumir características irreversíveis.

Ainda não existem dados oficiais, mas estimativas revelam que o EMD pode atingir entre 2 e 4 milhões de diabéticos no Brasil. A maioria ainda não é diagnosticada, muito provavelmente porque têm um controle precário de sua doença e não são acompanhados por especialistas multidisciplinares. Por isso, a recomendação médica é que, além do controle com endocrinologista, o paciente consulte um oftalmologista especialista em retina e faça controles periódicos com o exame do fundo de olho. Só assim o diagnóstico da retinopatia e da possível presença de EMD pode ser feito de maneira segura e precoce.

Quando diagnosticado precocemente, o edema pode ser revertido. Até pouco tempo, a terapia padrão era o laser, que tem atuação maior em frear o processo do que restaurar a visão já perdida. Felizmente, novas possibilidades chegaram recentemente ao mercado e já há pacientes com excelente resposta aos chamados inibidores do VEGF (fator de crescimento endotelial dos vasos, em inglês). Além de impedir a progressão da doença, esta nova opção também pode recuperar parcial ou totalmente a visão do paciente, dependendo do seu nível de evolução e o controle rigoroso do diabetes.

Na prática médica, temos adotado as duas terapias, seja de forma independente ou combinada. O médico especialista é o melhor profissional para indicar o tratamento adequado para cada caso. Mas, lembre-se: é essencial controlar o diabetes com alimentação, exercícios físicos e medicamentos. Apenas assim você poderá se prevenir de complicações e obter um bom resultado nos tratamentos.

O autor do texto, dr. André V. Gomes, é especialista em retina, doutor em oftalmologia pela USP-SP e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo

Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul

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